O número de pessoas com excesso de peso não para de crescer. Cada vez mais a doença tem comprometido a qualidade de vida dos adultos e acometido as crianças. Saiba mais sobre essa condição clínica
Quando os ponteiros da balança mostram quilos a mais do que o esperado, acende - se sempre um sinal de alerta. O sobrepeso pode ser momentâneo, mas também indicar que está fora de controle e pede atenção. A obesidade é uma doença crônica e sua principal característica é o acúmulo de gordura corporal provocado pela alta ingestão de calorias (mais do que necessitamos para realizar as tarefas do dia a dia, como comer, andar, trabalhar e praticar atividades físicas) por meio da alimentação.
Se muita gente banaliza a doença ou a vê com olhos preconceituosos1 - 85% das pessoas com obesidade já sentiram preconceito pelo excesso de peso, estudiosos e médicos apontam que ela exige tratamentos adequados, pois os obesos têm mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo 2, artrose, neoplasias e danos à saúde mental, como depressão e baixa autoestima.
A Organização Mundial da Saúde recomenda o índice de massa corporal (IMC) para diagnosticar a obesidade. O cálculo do IMC é simples: divide-se o peso (Kg) pela altura (m) elevada ao quadrado. O resultado indica se o adulto está abaixo do peso, com o peso normal, sobrepeso ou obeso. Você pode calcular seu IMC com uma calculadora ou utilizando ferramentas online, como a da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/calculadora-imc/
Índice de massa corporal (IMC) | Classificação |
---|---|
Igual ou superior a 30 kg/m² | Obesidade |
Entre 25 e 29,9 | Sobrepeso |
Entre 18,5 e 24,9 | Peso normal |
Abaixo de 18,5 | Abaixo do peso |
FONTE: Organização Mundial da Saúde (OMS) |
Entre os obesos, a classificação ainda varia: obesidade leve (IMC entre 30 e 34,9 kg/m2), moderada (IMC entre 35 e 39,9 kg/m2) e grave (IMC ≥ 40 kg/m2). Essa subdivisão guia o tipo de tratamento mais adequado para cada paciente.
Além desse cálculo, é fundamental uma avaliação médica. Nela, o especialista faz uma anamnese: conhece o estilo de vida e os hábitos alimentares; se há histórico de pessoas obesas na família; e pode medir a circunferência do pescoço e do abdômen a fim de conferir se há indícios de problemas metabólicos e acúmulo de gordura corporal nessas regiões. Ele ainda pode solicitar exames laboratoriais, como os que aferem o nível de colesterol, glicemia e gordura no fígado, e a bioimpedância, para verificar a composição corporal (massa muscular, gordura, densidade óssea e água).
Para as crianças e os adolescentes, os pediatras e a OMS não recomendam o IMC para determinar a obesidade. O ideal é considerar o peso, a altura e a fase de crescimento, já que esses dados podem variar bastante conforme a faixa etária.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a obesidade é uma doença complexa, que atinge homens e mulheres de modo igual e está presente em todos os países.
Além disso, ocupa o 2º lugar entre as causas de morte que poderiam ser evitadas, ficando atrás do tabagismo9.
Atualmente, é considerada uma epidemia e pede políticas públicas consistentes e eficazes. Por que, porém, nas últimas décadas, o número de pessoas obesas cresceu tanto?
A enfermidade é causada pela alta ingestão de alimentos associada à baixa atividade física e está relacionada a vários fatores: genética; insônia; problemas endócrinos; uso de medicamentos, como antidepressivos e corticoides; consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcares; ingestão excessiva de bebidas alcoólicas; além do ambiente, estilo de vida e de questões sociais10.
Se esses fatores impactam a qualidade de vida dos adultos e levam aos quilos a mais na balança, a má alimentação e o sedentarismo são os inimigos do peso adequado das crianças. Segundo estudos11, na rotina infantil, não faltam refrigerantes, bebidas açucaradas (como sucos de caixinha ou em pó), biscoitos recheados, salgadinhos e macarrão instantâneo. A atenção com a alimentação dos pequenos e o combate a obesidade são tão sérios que o Ministério da Saúde tem várias publicações que tratam desse tema, entre elas os Protocolos de Uso do Guia Alimentar para a População Brasileira, elaborados em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), nos quais há dicas para estimular o consumo de arroz e feijão, prato típico da cultura brasileira, substituir as bebidas prontas por água e convidar as crianças a participarem do preparo de seus alimentos.
O excesso de peso não só desequilibra os ponteiros da balança, mas também compromete a saúde de crianças e adultos e favorece o surgimento de doenças mortais, como pelo menos 13 tipos de câncer12.
Nem sempre os obesos procuram ajuda para lidar com os quilos a mais. Muitos acham que conseguem perder peso sozinhos, sem o acompanhamento de um especialista, outros não sabem que a obesidade é uma doença crônica que precisa ser acompanhada de perto. O tratamento adequado para cada caso não só ajuda a equilibrar os ponteiros da balança como também evita que outras enfermidades decorrentes do sobrepeso surjam. Por isso, quanto antes contar com a ajuda de um especialista, melhor.
Os tratamentos para a obesidade variam de mudança no estilo de vida à indicação cirúrgica. Por isso, uma avaliação médica bem-feita e uma discussão aberta entre o paciente e o profissional de saúde, para avaliar os ônus e bônus de cada opção, é essencial para definir qual é a melhor conduta para cada pessoa.
Mudanças no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e equilibrada, com refeições feitas em intervalos regulares, e a prática de exercícios físicos, são obrigatórias para quem quer emagrecer, independentemente do tipo de sobrepeso ou obesidade que apresenta. Mas há outros recursos que auxiliam a perda de peso e, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, eles devem ser recomendados em casos determinados.
Depois de driblar o sobrepeso, o desafio é manter longe os quilos extras. Para isso, é preciso muito esforço. A dupla alimentação saudável e prática de exercícios físicos é obrigatória. Esses hábitos, que devem ser adotados logo que o tratamento para emagrecer começa, são os responsáveis por equilibrar a quantidade de alimentos ingeridos com o gasto de energia, evitando que haja acúmulo de gordura corporal novamente.
Se o peso a mais voltar a aparecer, o ideal é procurar ajuda médica antes que a situação fuja do controle. Poucos quilos a mais são suficientes para conversar com um especialista, avaliar porque isso está acontecendo e adotar medidas para reverter esse quadro.
Recursos
Consulte nossas referências para saber mais sobre obesidade.
Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica – ABESO
https://abeso.org.br/.
Cirurgia bariátrica – Biblioteca Virtual de Saúde
https://bvsms.saude.gov.br/cirurgia-bariatica/#:~:text=A%20cirurgia%20bari%C3%A1trica%20%C3%A9%20recomendada,%2C%20como%20diabetes%2C%20colesterol%20alto%2C
Guia Alimentar para a População Brasileira – Nupens/USP
https://www.fsp.usp.br/nupens/guia-alimentar-para-a-populacao-brasileira/
Observatório da obesidade – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
http://www.observatoriodeobesidade.uerj.br/
Obesidade infantil: o problema de saúde pública do século 21
https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/3158/pdf
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
10 coisas que você precisa saber sobre obesidade https://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-obesidade/
1 Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica: https://abeso.org.br/85-das-pessoas-com-obesidade-ja-sentiram-preconceito-pelo-excesso-de-peso/
2 ABESO. Mapa da obesidade. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/.
Acesso em: 19 set. 2023.
3 ABESO. Mapa da obesidade. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/.
Acesso em: 19 set. 2023.
4 Pinheiro M. C., Moura A. L. S. P., Bortolini G. A., Coutinho J. G., Rahal L. S.,
Bandeira L. M. et al. Abordagem intersetorial para prevenção e controle da obesidade: a experiência
brasileira de 2014 a 2018. Rev, Panam Salud Publica. jul. 2019. Disponível em: https://iris.paho.org/handle/10665.2/51367
Acesso em: 19 set. 2023.
5 OBSERVATÓRIO da obesidade. UFRJ. Tendência da obesidade severa entre 2006 e 2021.
Disponível em: http://www.observatoriodeobesidade.uerj.br/?p=3767.
Acesso em: 19 set. 2023.
6 OBSERVATÓRIO da obesidade. UFRJ. Tendência da obesidade severa entre 2006 e 2021.
Disponível em: http://www.observatoriodeobesidade.uerj.br/?p=3767
Acesso em: 19 set. 2023.
7 ABESO. Até 2035, um em cada 4 adultos conviverá com a obesidade no mundo. Disponível
em: https://abeso.org.br/ate-2035-um-em-cada-4-adultos-convivera-com-a-obesidade-no-mundo/.
Acesso em 19 set. 2023.
8 WHO Consultation on Obesity (1999: Geneva, Switzerland) & World Health Organization.
(2000). Obesity: preventing and managing the global epidemic: report of a WHO consultation. World
Health Organization. https://iris.who.int/handle/10665/42330
Acesso em: 20 set. 2023.
9 ABESO. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica.
Obesidade aumenta risco para outras doenças e reduz a vida de 3 a 10 anos. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-aumenta-risco-para-outras-doencas-e-reduz-a-vida-de-3-a-10-anos/
Acesso em: 20 set. 2023.
10 OMS https://www.who.int/health-topics/obesity#tab=tab_1,
Obesidade Brasil https://www.obesidadebrasil.com.br/post/medicamentos-que-podem-aumentar-peso
11 MARTINS, Ana Paula B. É preciso tratar a obesidade como um problema de saúde pública.
Perspectivas, maio/jun. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-759020180312
Acesso em: 20 set. 2023.
12 Manifesto Obesidade: cuidar de todas as formas. Abeso. Disponível em: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2021/03/Manifesto.pdf
13 ABESO. Associação Brasileiro para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica.
Atualização das Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da Obesidade e do Sobrepeso. Disponível
em: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/Atualizacao-das-Diretrizes.pdf
Acesso em: 21 set. 2023.
14 LINGVAY, ldiko et at. Semaglutide for cardiovascular event reduction in people
withoverweight or obesity: SELECT study baseline characteristics. The Obesity Society, v. 31, n. 1,
jan. 2023, p. 111-122. Disponivel em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/oby.23621. Acesso em: 20 set. 2023.
15 Livia Azevedo Bordalo, Tatiana Fiche Sales Teixeira, Josefina Bressan, Denise Machado Mourão, Cirurgia bariátrica: como e por que suplementar, Revista da Associação Médica Brasileira, Volume 57, Issue 1, 2011,Pages 113-120,ISSN 0104-4230, https://doi.org/10.1590/S0104-42302011000100025. Acesso em 29 set 2023.
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