Câncer de fígado

Câncer de fígado

Se você ou alguém que você conhece foi diagnosticado com câncer de fígado ou está procurando informações sobre prevenção, aqui está uma visão geral dos fatores de risco e diagnósticos disponíveis.

O que é o câncer de fígado?

Já é sabido que o câncer, independentemente da região onde está localizado, é caracterizado por células que sofreram alguma mutação e se reproduzem de forma descontrolada, provocando efeitos colaterais e fazendo com que o corpo não funcione como deveria. 1 No câncer de fígado, o processo também é esse e podem surgir tumores primários, que nasceram no próprio órgão, ou secundários, quando as células cancerígenas são originárias de outro lugar e causaram metástases. Apesar dessa diferença, ambos os tipos são comuns e exigem atenção, já que o número de novos casos de câncer de fígado e de mortes por causa da doença aumentará em mais de 55% até 2040, de acordo com a International Agency for Research on Cancer (Iarc - Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer). ²

Quais são os fatores de risco para o câncer de fígado?

Se os diagnósticos da doença tendem a aumentar nos próximos anos na maioria dos países, por aqui as estatísticas não são diferentes. No levantamento Estimativa 2023 – Incidência de câncer no Brasil 3 , realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 10.700 novos casos serão registrados por ano até 2025.

Os vírus das hepatites B e C, doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2, o acúmulo de gordura no órgão (esteatose), e o consumo exagerado de bebidas alcóolicas são os principais vilões do câncer de fígado. Entretanto, pesquisas recentes também têm alertado sobre o impacto da obesidade e do tabagismo no surgimento da doença.

A prevenção é a melhor arma para driblar o câncer de fígado. Um estudo 4 da Iarc, por exemplo, mostra que 17% dos diagnósticos da doença feitos em 2020 poderiam ter sido evitados com a redução do consumo de bebidas alcoólicas.

Investir na vacinação contra as hepatites e atuar, de forma eficaz, no tratamento da doença; conscientizar a população sobre os efeitos do consumo do álcool e do cigarro no aparecimento de inúmeras enfermidades; propor políticas públicas para o acompanhamento e o cuidado de obesos e pessoas com diabetes tipo 2 são medidas que podem reduzir de modo eficaz as estatísticas do câncer de fígado no mundo. ⁵

Quais são os sintomas do câncer de fígado?

Os sinais de que algo não está bem aparecem quando os tumores já ganharam volume e estão prejudicando o funcionamento do órgão. Perda de peso sem razão, cansaço ou fraqueza, coceira, náusea e vômito, perda de apetite, inchaço do abdômen, sensação de satisfação após uma refeição leve, icterícia (pele e olhos amarelados) e febre podem ser indicativos de que a doença está instalada. Mas uma avaliação médica precisa, complementada por exames específicos, é importante para fechar o diagnóstico do câncer de fígado.

Como é feito o diagnóstico do câncer de fígado?

Quando os médicos suspeitam de câncer de fígado, consideram não apenas os sintomas, mas também o histórico de doenças e os hábitos do paciente. A presença de cirrose hepática (as fibroses no órgão causadas pelo consumo exagerado de bebida alcoólica), por exemplo, é uma informação importante para o especialista. Para confirmar o diagnóstico, são feitos alguns exames: o de sangue é essencial para avaliar como o fígado está trabalhando e se há marcadores tumorais; a tomografia e a ressonância magnética ajudam a visualizar se há algum tumor, sua localização e seu tamanho e se existe mais de um nódulo; já a angiotomografia é utilizada para observar os vasos sanguíneos do órgão e se há algum comprometimento dessa região.

Se os tumores são encontrados, é fundamental fazer uma biópsia para saber o tipo de célula cancerígena, o estadiamento da enfermidade e os tratamentos possíveis.

Quais são os tipos de tumores de fígado?

O carcinoma hepatocelular é o tipo mais comum de câncer de fígado nos adultos. Normalmente, ele aparece em pessoas que têm uma cicatrização grave (cirrose) na região, provocada pelo vírus das hepatites B e C, pelo acúmulo de gordura nas células do fígado ou ainda pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. Esse tumor pode se desenvolver de duas formas: começa como um nódulo único que só se dissemina pelo órgão quando a doença já está avançada; ou como vários nódulos espalhados pelo fígado.

Há também outros tipos de câncer de fígado primário, porém, menos comuns: Angiossarcoma: um dos tipos menos diagnosticados, se origina nas células que revestem os vasos sanguíneos do fígado e que crescem rapidamente. Sua causa é desconhecida, mas algumas pesquisas indicam que pessoas que foram expostas ao cloreto de vinila (utilizado na produção de cloreto de polivinila (PVC)), ao dióxido de tório e ao arsênico podem desenvolver a doença.⁶

Carcinoma fibrolamelar: tipo bastante raro de carcinoma hepatocelular, costuma acometer adultos jovens (não apresenta, necessariamente, como fator de risco, cirrose ou infecção provocada pelo vírus das hepatites B e C). Colangiocarcinoma: de crescimento lento, aparece entre as células que revestem os ductos biliares, dentro ou fora do fígado.

Hepatoblastoma: acomete bebês e crianças pequenas. Nas crianças mais velhas, provoca puberdade precoce. Pode ser identificado por uma massa na parte superior direita do abdômen.

Vale lembrar que o câncer secundário ou metastático (vindo de outra parte do organismo) não é classificado como “de fígado”. Eles são nomeados e tratados a partir da região onde surgiram. No fígado, são comuns metástases de câncer de pulmão, mama, intestino grosso e pâncreas.

Quais são os tratamentos disponíveis?

Para tratar o câncer de fígado, os especialistas consideram a combinação de alguns fatores: o tipo e a extensão do tumor, a presença de metástases, o estágio da doença e as condições clínicas do paciente, principalmente o funcionamento do fígado.

Quando diagnosticado precocemente, a cirurgia (hepatectomia) é o tratamento mais indicado. Com ela, é possível retirar o tumor. Entretanto, há casos nos quais o nódulo, mesmo sem ter se espalhado pelo órgão, não pode ser removido totalmente. Quando isso acontece, a terapia é complementada por quimioembolização, em que, por meio de cateterismo, microesferas são carreadas com medicamentos quimioterápicos, ou radioembolização, em que microesferas radioativas são injetadas nos vasos que irrigam o tumor, impedindo seu crescimento. Outra alternativa é a ablação por radiofrequência, que usa o calor para destruir as células cancerígenas. O transplante de fígado também é uma opção para quando o tumor ainda não cresceu e se espalhou.

A quimioterapia tradicional é o recurso usado para driblar o crescimento das células do colangiocarcinoma, mas é pouco efetiva no combate do carcinoma hepatocelular. Nesses casos, os especialistas recomendam a terapia-alvo, com a ingestão oral de medicamentos denominados inibidores de tirosina quinase, que bloqueiam o crescimento de novos vasos sanguíneos que alimentam o tumor.⁷

Como o câncer de fígado é uma doença que começa bastante silenciosa, não é fácil fazer um diagnóstico precoce e com indicação de tratamentos que podem curá-lo. Por isso, a prevenção é tão importante para evitar esse diagnóstico, principalmente para pessoas do grupo de risco. Quando a neoplasia já está instalada, a sobrevida de pacientes com a enfermidade varia entre 12 e 18 meses.

Recursos
Consulte nossas referências para saber mais sobre câncer de fígado.

American Cancer Society
https://www.cancer.org/cancer/liver-cancer.html

Instituto Nacional de Câncer (INCA)
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/figado
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/figado/introducao
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/noticias/2022/inca-estima-704-mil-casos- de-cancer-por-ano-no-brasil-ate-2025
https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/noticias/2022/inca-estima-704-mil-casos- de-cancer-por-ano-no-brasil-ate-2025

A.C. Camargo Cancer Center
https://accamargo.org.br/sites/default/files/2020-08/cartilha_figado.pdf

Manual MSD – Versão saúde para a família
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da- ves%C3%ADcula-biliar/tumores-do-f%C3%ADgado/carcinoma-hepatocelular https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da- ves%C3%ADcula-biliar/tumores-do-f%C3%ADgado/considera%C3%A7%C3%B5es- gerais-sobre-tumores-no-f%C3%ADgado

Oncoguia
http://www.oncoguia.org.br/cancer-home/cancer-de-figado/14/133/

¹ Instituto Nacional de Câncer - INCA. O que é câncer? https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/o-que-e-cancer. Acesso em 1 mar. 2023

² Rumgay H, Arnold M, Ferlay J, Lesi O, Cabasag CJ, Vignat J, et al. (2022). Global burden of primary liver cancer in 2020 and predictions to 2040. Journal of Hepatology, Published online 6 October 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jhep.2022.08.021. Acesso em: 1 mar. 2023.

³ INCA. Estimativa. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa. Acesso em: 1 mar. 2023.

⁴ Rumgay H, Shield K, Charvat H, Ferrari P, Sornpaisarn B, Obot I, et al. (2021). Global burden of cancer in 2020 attributable to alcohol consumption: a population-based study. Lancet Oncol, 22(8):1071–80. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00279-5. Acesso em: 1 mar. 2023.

⁵ Number of new cases and deaths from liver cancer predicted to rise by more than 55% by 2040. International Agency for Research on Cancer. Published online 6 October 2022. Disponível em: https://www.iarc.who.int/wp-content/uploads/2022/10/pr320_E.pdf. Acesso em: 1 mar. 2023.

⁶ MSD Manuals. Cânceres primários do fígado: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/tumores-do-f%C3%ADgado/c%C3%A2nceres-prim%C3%A1rios-do-f%C3%ADgado#:~:text=Angiossarcoma,como%20a%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20ao%20ars%C3%AAnico. Acesso em 1mar 202

⁷ Oncoguia. Terapia-alvo para câncer de fígado: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/terapiaalvo-para-cancer-de-figado/2041/209/ Acesso em 1 mar 2023