Marcelo Tas: Da Benzedeira ao Dr. Google

Histórias

Desafios e oportunidades da saúde na Internet

Quem nunca se consultou com o Dr. Google? É tentador ter uma dor e saber que toda informação do mundo está há um clique de distância. Parece simples ir atrás de um tratamento para doença ou sintoma. Só que não. Faz sentido clicar o smartphone para entender o que estamos sentindo dentro do corpo que está teclando? Não dá para negar. Viver sentado navegando no virtual distrai a percepção que temos até do nosso próprio corpo.

Na última década, a área da saúde, em particular a relação médico x paciente, foi absolutamente transformada. Sim, claro, em todas as áreas profissionais aconteceu o mesmo. Na saúde fica mais visível por dizer respeito diretamente ao que está diante de nós: a vida. Segundo pesquisa de 2019 do próprio Google 26% dos brasileiros recorrem primeiro ao buscador ao se deparar com um problema de saúde. Isto corresponde a aproximadamente um terço dos 134 milhões de usuários de internet no Brasil. O cruzamento de dados sugere que estamos falando de cerca de 44 milhões de brasileiros. É muita gente, mais que a população do Canadá.

 

ORÁCULOS ANALÓGICOS vs. DIGITAIS

Quando eu era moleque em Ituverava-SP, tive o privilégio de conhecer figuras preciosas, muito comuns nos interiores do Brasil, que cuidavam da saúde popular. É o caso de Dona Carmela, a benzedeira da cidade que dava diagnósticos e apoiava a quem a procurava. Geralmente, com problemas na saúde emocional, caso de uma “espinhela caída” ou “mal olhado”. Outra autoridade municipal era o balconista da farmácia. Com a barriga no balcão, ele ouvia as queixas e indicava remédios baseados nas receitas médicas que os mais previdentes levavam para adquirir seus medicamentos. Ou seja, o balconista dava um copy paste nas receitas alheias baseado puramente na conversinha mole que rolava na farmácia. Imagina o risco de diagnóstico que o povo corria. 

Diante da montanha de informação de hoje parece loucura consultar benzedeira ou qualquer outra figura que não seja da área de saúde para obter um diagnóstico ou saber mais sobre uma doença. Mas não dá para negar as semelhanças da realidade atual com as do tempo de quando eu era jovem e ainda tinha cabelos cacheados. Com o Dr. Google as possibilidades de ruídos e má qualidade de diagnóstico e tratamentos difusos tendem a crescer de forma exponencial.

Não há nada de incorreto no desejo em obter mais informação e conhecimento. Só que quando o assunto é saúde, a qualidade da informação é um fator a ser observado com rigor. Segundo estudo da Edith Cowan University (ECU), publicado no Medical Journal of Australia (2020), apenas 36% das vezes os buscadores encontram um diagnóstico de saúde correto como primeiro resultado. O risco de um diagnóstico errado é alto. Simplesmente, 74% das buscas encontram falhas nos primeiros resultados encontrados.

Parte da alta margem de erro no caso da saúde é devido ao contexto individual de cada diagnóstico. A outra parte é resultado da natureza colaborativa do fluxo de informação na Internet. As informações são publicadas por qualquer pessoa. Muitas vezes em grupos de confiança, como os de WhatsApp da família, onde a tendência é uma aceitação alta de tudo que é sugerido como “bom” ou “faz bem”. Na informação médica não há garantia alguma de qualquer curadoria que não seja acompanhada por um profissional de saúde para checar e validar os dados publicados.

Empresas e players do setor da saúde com compromisso com a informação de qualidade têm desenvolvido soluções para ajudar essa grande parcela da população que busca informações de saúde na Internet. Um deles é o projeto Saber da Saúde desenvolvido pela Boston Scientific Brasil. Trata-se de uma plataforma que democratiza informações de saúde com curadoria médica profissional de especialistas. O objetivo é desenvolver espaços de informação segura sobre saúde na Internet e disseminar conhecimento científico para o maior número de brasileiros possível.

Há informações sobre os principais sintomas, diagnósticos, tratamentos e formas de prevenção de condições clínicas que acometem o sistema nervoso, coração e sistema urinário, bem como relacionadas a tumores, cânceres e saúde sexual.

O volume de dados gigantesco e desestruturado sobre saúde na Internet é um grande desafio. Sabemos que a ausência de checagem e curadoria pode causar danos reais. Além do risco de diagnóstico errado e automedicação inapropriada, os oráculos digitais ainda estimulam outros efeitos colaterais da era moderna. Como o das doenças psicopatológicas ligadas ao espaço cibernético como por exemplo a Cibercondria. O termo surgiu nos anos 2000 para designar uma tendência da pessoa acreditar que tem propensão a adquirir todas as doenças sobre as quais encontrou na internet. É um tipo ansiedade específica e turbinada por buscas on-line relacionadas à saúde.

 

INFORMAÇÃO SEGURA

É crucial ficarmos atentos às fontes quando buscamos informações sobre saúde na rede. Lá estão lado a lado, de forma desorganizada e sem hierarquia, desde os palpites do balconista da farmácia até as mais recentes elucubrações da sua tia ou amigo sobre a cura de qualquer doença.

Saúde é um direito constitucional, assegurado no artigo 196 da Constituição Federal de 1988. A desinformação pode ser um grande obstáculo. Agradeço quem chegou até aqui e se anima a deixar a sua experiência em buscar informações na Internet. Eu citei a Boston Scientific e convido você a dividir outras iniciativas semelhantes que promovam informação segura de saúde na Internet. Vou ainda publicar abaixo os links que eu usei para escrever esse texto. Compartilhe à vontade!

E caso perceba algum sintoma de doença, procure um médico especialista. Desejo saúde e informação segura a todos. 

Texto originalmente publicado no LinkedIn do Marcelo Tas:
https://www.linkedin.com/pulse/da-benzendeira-ao-dr-google-marcelo-tas?trk=public_profile_article_view

Links das principais referências que usei para escrever o artigo:

https://www.eurekalert.org/news-releases/662440

chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://cetic.br/media/analises/tic_domicilios_2019_coletiva_imprensa.pdf

 https://www.populationpyramid.net/pt/popula%C3%A7%C3%A3o/2020/

https://ictq.com.br/pesquisa-do-ictq/786-pesquisa-autodiagnostico-medico-no-brasil-2018

https://is.gd/fnhVuP

https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-lidera-aumento-das-pesquisas-por-temas-de-saude-no-google,70002714897

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-05/brasil-tem-134-milhoes-de-usuarios-de-internet-aponta-pesquisa

https://www.cnnbrasil.com.br/business/pesquisa-diz-que-9-em-cada-10-brasileiros-nao-podem-arcar-com-despesas-de-saude/ 

https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/05/20/pesquisa-sintomas-na-internet-dr-google-acerta-apenas-13-das-vezes.htm

https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/4-em-cada-5-pessoas-procuram-conselhos-de-saude-na-internet-diz-pesquisa/

https://www.terra.com.br/noticias/dino/site-de-busca-tem-maior-procura-por-saude-no-brasil,e2fcb43604f161bcff057c70c05d711dywdfawir.html

https://veja.abril.com.br/saude/buscas-sobre-saude-na-internet-explodem-no-pais/

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